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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Censura econômica é a nova vilã da imprensa


 
Censura econômica é a nova vilã da imprensa
 
 Interesse dos anunciantes sobrepõe-se à censura política
e limita ação dos jornalistas
  
 
 
Se a censura política praticamente acabou no Brasil, a econômica fica mais forte a cada dia, nas redações. O jornalista apura e tenta escrever a notícia na íntegra, mas isso nem sempre é possível. O comercial precisa de espaço para publicidade. Limita matérias e corta outras quando são contrárias aos interesses dos anunciantes. Acontecendo algo fora dessas regras, as cabeças podem rolar. O dinheiro, público ou privado, manda na maioria das redações.
Há algumas tentativas de se mudar essa realidade, mas, na virada do século, o profissional de imprensa, comprometido com a verdade, continua no “fio da navalha”, como define o editor-geral da Folha de Pernambuco, Henrique Barbosa. E quando uma matéria é cortada, as opções são poucas: brigar e ser demitido ou simplesmente não reclamar. “Tentaram me tolher no Diário de Pernambuco, muito chateado falei o que eu pensava, chutei o pau da barraca, e acabei na rua”, lembra o repórter Paulo Emídio, hoje na Gazeta Mercantil.
No linguajar da televisão, quando uma reportagem não tem condições de ir ao ar, fala-se em “derrubar a matéria”. O termo é válido para as ingerências freqüentes do setor comercial da empresa. “Trabalhei numa emissora onde não podia colocar no ar nada contra supermercado. Era um assunto proibido”, define o gerente de produção da TV Guararapes, Ivan Júnior.
Mas há diferenças entre as empresas de comunicação? A editora-chefe da TV Jornal, Leda Barros, afirma que não. “Todas têm interesses políticos e econômicos”, garante. E a tal liberdade de imprensa passa sempre pela triagem desses “interesses”. A publicação ou não da notícia fica à mercê de quem paga os salários e as contas no final do mês.
O editor-geral do Diário de Pernambuco, Ricardo Leitão, já se acostumou em ter sua “cabeça” solicitada. “Quando denunciamos o esquema de licitação fraudulenta de uma empresa de segurança com o Governo do Estado, chegaram a publicar uma nota contra mim em todos jornais”. Mesmo assim, ele permaneceu no cargo. “A nossa redação está profissionalizada. O nosso principal faturamento vem de pequenos anunciantes e o limite aqui é o fato”.
Esta é a esperança do jornalista Carlos Cavalcante, diretor da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP). Quando trabalhava no Diário, tomou um susto ao ver uma reportagem de uma página, sobre o assassinato praticado por um grande empresário, dar lugar a um anúncio enorme. Pior: a direção do jornal se negou a comentar o assunto. “Sumiço e corte de textos são freqüentes quando os envolvidos são poderosos”, comenta.
Algumas matérias saem da tela do computador do jornalista para serem editadas na diretoria e nem sempre voltam para a publicação. “Aqui na Folha de Pernambuco o dono atua, conversa, faz, desfaz e pauta. É ele quem paga, não é ?”, pergunta Henrique Barbosa. Enquanto as vendas avulsas, classificados e de assinaturas não cobrirem as despesas de um jornal, é quase certo o “sacrifício” de algumas notícias.

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