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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

As Instituições Sociais e a Reprodução Social

 
As Instituições Sociais e a Reprodução Social
 

Noção de Reprodução Social

Reprodução Social – acção da sociedade no sentido da manutenção da ordem social e da perpetuação das condições em que a vida social se desenrola (Gallo).


Conjunto de acções e mecanismos sociais orientados no sentido de assegurar a ordem social estabelecida (status quo ou establishment).



Necessidade de Reprodução das Condições Sociais de Produção


 Uma formação social ou sociedade é solicitada, em cada momento, a produzir os bens necessários à sua sobrevivência imediata.
Porém, a sua continuidade exige também que sejam garantidas as possibilidades futuras da produção. Cada formação social deve assegurar-se de que as gerações vindouras poderão continuar a produzir, garantindo, assim, a sua reprodução.
 Ao assegurar a reprodução material, a sociedade deverá garantir também a sua reprodução cultural e ideológica.
Se os valores, ideias e modelos que sustentam o funcionamento de uma sociedade e que traduzem sempre uma certa hierarquia social não forem reproduzidos, esses alicerces sociais transforma-se-ão e, com eles, todas as características da formação social.
A reprodução cultural e ideológica assegura a aceitação do sistema de estratificação social vigente.

A reprodução dos meios de produção
 A actividade produtiva deverá produzir não só os bens essenciais à nossa subsistência imediata, como prover à substituição dos meios de trabalho deteriorados, à reprodução das matérias-primas agrícolas e industriais, à utilização racional dos recursos naturais renováveis e não renováveis...
A reprodução da Força de trabalho
 A reprodução dos meios de produção não chega para que haja a garantia de continuidade do processo produtivo.

A reprodução da força de trabalho é condição indispensável à reprodução social.
 A reprodução da força de trabalho exige que cada um de nós tenha acesso aos resultados da produção.
Nas formações sociais em que os indivíduos se situam em estratos e classes sociais que se posicionam de forma diferenciada face à propriedade dos meios de produção, a reprodução da força de trabalho tem sido assegurada pelo salário.
O salário deverá assegurar a reprodução da força de trabalho, garantindo a sobrevivência dos trabalhadores e ainda dos seus descendentes, pois são eles que irão garantir a continuidade do processo produtivo.

A reprodução das relações sociais de produção
 Relações sociais de produção – relações que se estabelecem entre os detentores dos meios de produção e os detentores da força de trabalho.
 A reprodução social reproduz, também, o sistema de estratificação social que caracteriza a formação social.
Classes e estratos dominantes vêem manter-se a sua situação de dominação.
 A reprodução de certo sistema de hierarquias exige que se mantenham os diferentes tipos de relações que se estabelecem entre os indivíduos, ao longo do processo produtivo.
As relações de dependência e de subordinação deverão ser reproduzidas, como factor imprescindível à reprodução do modo de produção dominante.
 A reprodução social exige, pois, não só a reprodução das forças produtivas, isto é, a força de trabalho e os meios de produção, mas também a reprodução das relações sociais de produção.
 Em todo este processo de reprodução social, a ideologia tem um papel fundamental.


A Ideologia

Noção de Ideologia

                    Ideologias: Sistemas de ideias, de crenças e de opiniões que influenciam os grupos e explicam/legitimam os seus comportamentos, dado que pretendem ser a representação e interpretação da realidade social feitas pelo próprio grupo.

  •  Ao aceitarem como verdadeiros os valores impostos pelas ideologias, os indivíduos de cada grupo lutarão no sentido de verem aceite o seu sistema de valores.
  •  Cada grupo social produzirá a sua ideologia.

  • A função da classe dominante é a de levar todos os indivíduos a aceitar, como universal, o seu conjunto de valores.
    • Naturalmente, numa sociedade de classes, a produção de ideias dominantes será a da classe dominante. Esta não se contenta com o acto de dominar, antes procura impor, também, a crença da legitimidade da sua dominação.
    • Através de vários meios, nomeadamente, os meios de comunicação (os grandes impérios no domínio dos mass media são pertença do Estado ou de indivíduos da classe dominante), a ideologia dominante penetra na classe dominada de tal forma que impede o desenvolvimento das ideias da classe dominada. A classe dominante ensina, assim, a classe dominada a aceitar o seu lugar na sociedade.
  • No seio da classe dominada surgirá um grupo de indivíduos que, mais consciente da sua situação de classe, produzirá um sistema de representações que deverá orientar a actuação da classe – Contra-ideologia.
 Dado que as ideologias não são senão os prolongamentos teóricos das classes que se antagonizam, a oposição classe dominante/classe dominada deverá conduzir ao nascimento e desenvolvimento do antagonismo ideologia dominante/ideologia dominada.
 A ideologia surgirá, pois, como a manifestação ao nível das ideias, dos interresses de cada grupo ou classe historicamente determinada, não se constituindo, assim, num conceito abstracto.
Cada classe terá a sua ideologia que desejará alargar à colectividade global.

Ideologia e Acção
 A ideologia dominante só o é porque a classe da qual emerge é a força social dominante na formação social.
O minar dos alicerces da classe dominante passará também pelo incremento da luta ideológica. Tal luta acabará por conduzir a uma inversão nas posições de dominação em sintonia com a queda e ascensão de cada classe na formação social.
 Todo o grupo produz a sua ideologia que além de interpretar a realidade social, propõe acção no sentido de manter ou alterar essa realidade.
Ideologia pressupõe acção ao exortar e orientar o grupo a agir no sentido da consecução dos objectivos que se propõe atingir e que considera seus, de direito.
 A Ideologia legitima a Acção.

Ideologia e Cultura
 A ideologia torna-se o campo privilegiado de criação de novos valores ou recriação dos velhos com um novo sentido.
A ideologia é um dos campos principais em que se criam valores novos, que, muitas vezes difusos ou latentes, encontram finalmente formulação num esquema ideológico que os explicita
 Se a cultura e ideologia relevam, ambas, da vida social, a ideologia adianta-se à cultura exactamente na medida em que não propõe, apenas, a aceitação dos comportamentos sociais, antes pode produzir acção não conformista.
Ao condicionar e motivar comportamentos, a ideologia enquadra-se no conceito sociológico da cultura.
 Parece evidente que a ideologia, que se revela pela produção teórica, não se confundindo com a cultura é, no entanto, um dos seus elementos fundamentais, apesar de nela não se encontrar totalmente contida.


As Instituições Sociais Como Agentes de Reprodução Social


Noção de Instituição Social

               Instituição Social  - Conjunto de procedimentos, portanto, maneiras de pensar, sentir e agir, que definem formas de alcançar determinados objectivos e que são largamente aceites pela generalidade da população ou da sociedade.
A palavra instituição designa toda a forma de controlo e determinação das condutas individuais no seio do grupo organizado que possui uma estrutura, finalidades colectivas e uma fonte de poder.
Identifica-se com um conjunto de maneiras de pensar e agir que se apresenta aos indivíduos independentemente da sua vontade e que corresponde a uma forma de se alcançarem determinados objectivos.
Embora as instituições se nos apresentem como algo que vem do passado e que se nos impõe ou constrange como «um governo dos mortos sobre os vivos», as instituições não são imutáveis.
 Porque são um produto social, acompanharão de perto a evolução social de que nós somos protagonistas e mais não são do que sistemas organizados e estáveis que incorporam comportamentos sancionados por certos padrões e têm o objectivo de satisfazer certas necessidades.
São relativamente permanentes, tornando os padrões comportamentais que as caracterizam em verdadeiros traços culturais.

Elementos das instituições sociais e controlo social
Todas as instituições sociais contêm elementos que lhes dão existência e as caracterizam.
Os elementos que permitem a identificação da instituição, não só para os próprios membros, como também para o resto da sociedade são:
  • As necessidades de base e objectivos – é por existirem necessidades na base das instituições que estas se constituíram.
  • As maneiras de solucionar tais necessidades – cada instituição social tem de dar resposta às suas necessidades sociais de base. Identificando as maneiras de solucionar as necessidades de uma instituição, saberemos de que instituição se trata.
  • Os papéis sociais – cada instituição social tem papéis bem definidos, sem o exercício dos quais não seria possível atingir os objectivos para que a instituição foi criada.
  • As relações sociais – são, obviamente, a essência da própria instituição. É do resultado das interacções criadas pelo desempenho dos papéis sociais dos diferentes intervenientes, que as instituições conseguem funcionar e assim alcançar os objectivos para que foram criadas.
  • Símbolos culturais – têm por função lembrar aos membros das instituições os seus papéis.
  • Ideologias – são também elementos a ter em conta na reprodução social. Daqui que, por vezes, surjam contradições entre instituições com ideologias eventualmente diferentes.
Para a compreensão das instituições devemos ter em conta não apenas os elementos que as constituem, mas também o papel que desempenham na reprodução social, pelo facto de constrangerem os seus membros a conformarem os seus comportamentos a modelos e valores previamente existentes e que enformam os da sociedade.

Qualquer instituição representa um sistema organizado de relações sociais, fiel a determinados valores de comportamento e disposta a satisfazer as necessidades básicas da sociedade.

As Instituições Sociais como Agentes de Reprodução Social
  • As instituições sociais pela repressão física, pela coacção psicológica ou por processos de aprendizagem contribuem para o processo de reprodução social através da manutenção da e aceitação da ordem social.
  • Nem sempre os processos de repressão física têm conseguido impedir, de forma eficaz, o desvio às normas sociais. Assim, os estratos e as classes sociais dominantes têm lançado mão de outras estruturas organizadas que funcionam preferencialmente pela via ideológica.
  • Através da ideologia, a cada um de nós é ensinado o papel e lugar respectivos no sistema de estratificação social, no sentido de assegurar a reprodução social.
  • Só quando cada indivíduo se convencer de que o lugar que lhe foi destinado na formação social é o único e legítimo lugar que deve ocupar, é que a reprodução social se encontra assegurada
  • A reprodução social exige, portanto, a submissão às normas e regras da ordem estabelecida, isto é, à ideologia dominante na formação social.
  • Existem exemplos em que os agentes de socialização assumem atitudes e posições contra as expectativas dominantes. Estamos, então, perante verdadeiras contra-instituições que se opõem ao poder e à ordem dominantes, combatendo os valores, os modelos e a cultura em que se processa a reprodução social.
Os meios de comunicação social e a reprodução social
  • A preservação das suas posições sociais, com os inerentes benefícios e privilégios, é um dos objectivos por que mais se empenham e lutam os indivíduos.
  • Pelo prestígio social que detém ou pelo poder económico que possui, a classe dominante encontra-se sempre representada e defendida nas instâncias políticas e lança mão dos mais variados processos para consolidar a sua influência.
  • Os aparelhos repressivos, a par com a Igreja, a família, a escola ou os mass media ajudam aquela consolidação.
  • O poder legislativo e executivo nas mãos da classe privilegiada permite, eficazmente, a manutenção e a criação de condições que perpetuem o seu confortável status social.

Um dos problemas fundamentais a resolver será o da manutenção da coesão e da ordem social existentes. Para tal contribui o controlo social.
 Entre os factores capazes de influenciar o comportamento dos indivíduos, isto é, entre os controladores sociais encontramos, evidentemente, a opinião pública quando é manipulada pelos órgãos de comunicação de massa.

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